quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cuidado...


Cuidado!
Não pense que você pode trabalhar
as palavras despreocupadamente
como quem colhe goiabas em março
( seu prazer pode ir por água abaixo).
As palavras exigem reverência
para que se possa sorver delas a polpa suculenta,
no momento preciso em que as mãos
esticadas aparam o fruto maduro para o repasto.
(20.01.07)

Helena Galvão Albino

Fatalidade


Tudo que escrevo já foi escrito,
Ouvir estrelas, viver de brisa, subir aos céus.
Não sei ser original.
Me consolo dizendo: original foi Eva e seu pecado.
Sou muitas Evas depois.
Sem tentar Adão, sem viver no paraíso,
Comendo maçã na hora do lanche
No serviço público.

Helena Galvão Albino

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Minha mãe D. Dora

Vocês querem saber de quem sou filha?
Sou filha de D. Dora, a famosa D. Dora
Figura das mais conhecidas em Santa Tereza
Onde teve armazém, mercearia
Vendeu marmitas, sapatos, roupas do Ceará
Conquistou amigos, aliados, fez história
D. Dora, fiquem sabendo, é dinamismo.

Minha mãe diz que, em outra vida, foi homem
Eu acredito, e a visualizo como um general
Ou chefiando outras pessoas, desbravando
Enfrentando desafios, dando ordens
Tem características ditas masculinas
Poder de comando, dinamismo e disposição
D. Dora, fiquem sabendo, é mulher-macho.

Sofre com a dor do próximo
Quer ajudar, se preocupa com o outro
Encabeçou várias ações solidarias
Fez rifa para comprar radinho para deficiente
Arrecadou roupa para os pobres, pagou enterro
Pediu trabalho para desempregados
D. Dora, fiquem sabendo, é caridade.

Tem seu Lado doce, quer mimos
Gosta de agradar as visitas, dar presentes
Ciumenta com os filhos, possessiva
Galinha que quer os pintinhos debaixo das asas
Detesta brigas ou desarmonia entre os irmãos
Quer os filhos unidos, solidários
D. Dora, fiquem sabendo, é família.

Nunca foi mulher vaidosa
Não freqüentou clínicas de beleza, nem academias
Os cabelos sempre curtos, fáceis de pentear
Gosta das roupas práticas, funcionais
Cômodas, com grandes bolsos embutidos
Onde possa guardar chaves, documentos e dinheiro
D. Dora, fiquem sabendo, é praticidade.



Tem grande poder de desprendimento e abnegação
Esquece de si mesma para pensar nos outros
Tira do que tem para suprir quem tem falta
Dá presentes da natal para os motoristas de ônibus
Convida o carteiro para almoçar na sua mesa
Quer mais ajudar que ser ajudada
D. Dora, fiquem sabendo, é doação.

Nunca gostou de tarefas domésticas
Lavar, passar, cozinhar, limpar
Assumiu que não foi feita para isso
Gosta de ler jornal, acompanhar futebol
Viajar, visitar amigos, ser útil
Cuidar com muito gosto de suas plantas
D. Dora, fiquem sabendo, é liberdade.

Nunca teve vícios de bebida ou cigarro
Máculas de infidelidade ou egoísmo
Procura agir regida por princípios cristãos
Sem fazer nada que prejudique alguém
Acredita no bem acima do mal
Ensinou aos filhos lealdade e ética
D. Dora, fiquem sabendo, é honestidade.

Quando toma uma decisão, vai em frente
Como quando resolveu ser motorista
E enfrentar com coragem as estradas
Ou quando partiu sozinha para Fortaleza
Para ela nada é difícil ou impossível
Impaciente, não espera, quer tudo na hora
D. Dora, fiquem sabendo, é resolução



Gosta de lembrar da infância e juventude
Tem por sua mãe Helena veneração de santa
Ri quando se lembra de seus antigos pretendentes
Raimundinho cheiroso, Sebastião Andrade
Dos tempos em que, de madrugada, saía de bicicleta
Os namorados que perdeu para irmã Alayde
D. Dora, fiquem sabendo, é recordação.

Para cada filho faz novena de algum santo
Santa Terezinha, Santo Expedito, Santa Catarina
Nossa Senhora desatadora dos nós
Seguidora fiel de padre Marcelo Rossi
Mas se perde algum objeto, é infalível
A ajuda da alma de João ceguinho
D. Dora, fiquem sabendo, é devoção.

É assim que vejo minha mãe
Uma mulher fora dos padrões convencionais
É rocha, é “touro” de raça
Um ser de força, luta, coragem e decisão
Mas também carente no seu lado materno
Que quer ser amada,valorizada e cuidada
D. Dora, fiquem sabendo, é a minha mãe.

Maria Lúcia Galvão Albino

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Maria Carolina




Maria de cor
de humor
de mar
de ar
inundar

Nada mudou Maria
ainda somos nós
sem nos anular
sem nos cegar
vendo
sentindo
que ainda somos nós
cercado de todos

Olha Maria
Nao lamente
amigos nao se vão

Sinta maria
nao se decepcione
os bons ficarao

Sorria maria
seu sorriso lindo
franco
as vezes sem graça
mesmo para quem lhe
entristece

Seja intensa
veja a vida
com ingenuidade de maria
e o amor de carolina

Paulo Reis

domingo, 26 de outubro de 2008

a Perda


Não importa mais se te amo,
se te tenho,
se realmente te quero.
É insuportável viver o tempo todo consciente.
Até quando vou pensar em respirar?
Quantas outras piscadas vou notar?
As noites eram de sono.

Por que isso agora?
Tudo perde o significado.
Impossível cantar, trabalhar, beijar, rezar.
O meu pensamento só me leva à esse ciclo
que parece ser eterno
e pelo visto, vicioso.

Trocaria nosso passado pela minha inconsciência,
mas impossível voltar atrás.
Acho que dependo de você,
tudo começou por você,
preciso de você.
As palavras vão ficar repetitivas,
Pois a vida assim, também, é,
apenas faça carinho no meu rosto
que tudo passa.

Thiago Albino

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A festa dos anjos


O céu resolveu desabar. A chuva que ajudou a todos dormirem com seu barulho suave e nostálgico, agora deixa o quarto claro com seus raios pouco intervalados. São 2:45 am no relógio da cabeceira da cama de casal, entretanto devem ser 2:30, pois a mãe adora acordar mais cedo para fazer leite com chocolate e canela, bebida favorita de Isabela que há quatro anos é acordada carinhosamente no mesmo horário com uma mamadeira bem quente.

A mãe já aguardava a visita de sua filha na cama e não precisou esperar muito. O rostinho de choro deu origem a abraços, cafunés, beijos e uma breve história:

- Bela, Papai do céu está em todos os lugares, está com vovó, com suas amigas, com a Maria.

-Ele também está com o papai?

-Claro flor. Ele sempre faz com que o sol brilhe para você ver as árvores, para você ouvir os pássaros, pra você brincar. Deus faz tudo para que todos possam ser felizes, espertos e lindos como você. A filha respira profundamente como se aqueles elogios inconscientemente afirmasse que ela é especial, sempre será amada e a tempestade que destrói a cidade lá fora nunca alcançará sua cama. A mãe enrola mais os cachinhos de sua querida e continua:

-Deus trabalha por todos e as vezes El tira uma folga; não significa que ele parou de orar por nós, mas resolveu pensar um pouco mais nele. Os amigos são convidados, São Pedro, São Paulo, os anjos da guarda tiram uma folguinha do seu plantão, as santas incluindo Santa Tereza, sua protetora, e todos os outros vão à uma festa no céu. Assim como você brinca na escolinha, Papai do céu dança, canta e conversar. Só que são muitos convidados, muito mesmo e fazem barulho. Quando pulam bem forte, quando cantam alto ou quando alguém tropeça e cai no chão acontece o trovão.

-Mamãe e o relâmpago?

-O que que você acha minha filha?

A criança rápida como a luz responde não sei e abre bem os olhos esperando a resposta da mãe.

-São foguetes iguais aos que vimos na televisão.
Isabela faz cara de pensativa e pergunta:

-A festa que Deus faz, mãe, tem da bebida que papai falou que eu não posso beber? E os santos brigam e batem um no outro igual você e papai quando dançam no dia que ele chega de viagem do serviço?

O brilho da mãe de Isabela some, a chuva parece que ficou mais forte ou foi o silêncio que aumentou, aumentou, aumentou...

-Mãe, continua com o carinho no cabelo.

A ingênua menina não entendia o que acontecia. Em nenhum momento ela pensou que suas palavras ofenderam alguém, principalmente sua mãe. Bela ia pedir mais uma vez carinho quando viu sua mãe chorar.

-Você está com medo?

A mãe abre um sorriso amarelo e retorna com o cafuné.

-Mãe, papai me disse que medo é algo da nossa cabeça, se contar até 20 e pensar no Papai do céu ele some.

A senhora que estava na cama contou ate 20 e não adiantou pensar em Deus, pois esse estava em uma festa. A bela criança adormeceu esperando ser acordada com leite, sem medo de que algum dia a tempestade alcançasse sua cama.

Thiago Albino

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Falando verdades



Escreveria
se nao houvesse amor
se houvesse dor
e menos clichês

a tristeza é criativa
solidária
nua
crua

Crescemos nela
sobre ela e
através,
choramos

Na tristeza
somos quem somos
a verdade,
ou mentira

Triste
quem nao sabe compreender
a pureza
de uma tristeza

Paulo Reis

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

AO SEU LADO


Meu espírito
tem me ensinado coisas
às quais depois me desperto.
É como se vindo do sono
cravado em sonho
para o mundo tangível, tocável, possível
e ao mesmo tempo, meu Deus, tão incerto.

Talvez seja tempo de ressurgir,
se não for,
no mínimo prosseguirei
e talvez, esquecerei.

Me desperto,
como se vindo do sono
cravado em sonho
que me faz repensar.
Porque o intocável é tocável
e a tangente é o mais próximo do infinito
onde algum dia estaremos tão distantes
que aos olhos seremos somente dois pontos
Tão próximos que indiferenciáveis
tão minúsculos quanto todo o universo
reduzidos em um primitivo espaço e instante
seremos.

(Thiago Albino/ João Cortez)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Meu solo


A solidão
não chega em gotas
assola
devasta

Medo maior
que este lugar ermo,
desconheço em mim

Taciturno
Ódio pelo singular
Receio pelo sombrio

A solidão
não brada
é silenciosa

Corrompe
deprava
perverte
mortifica

A solidão atormenta
vigília
tortura
flagela

Com a solidão
se cresce,
modifica

na solidão
se forma o homem
e o homem se deforma
pela solidão

Paulo Reis

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

SOLIDÃO


Na mesa se assentam, o pai, a mãe

e o filho.

O filho olha a mãe

A mãe olha o pai

O filho olha a mãe

A mãe olha o pai

O pai se olha

No espelho da sopa.
Helena Galvão Albino

domingo, 19 de outubro de 2008

Domingo


Agora,
os dois já podem ser egoístas,
não precisam mais resmungar para viver,
podem deleitar da querida solidão.

Solidão essa que era buscada
todos os dias ininterruptamente
em forma de brigas banais

conseguiram com um "que" a mais

Degustam agora
da querida solidão
que de tão solitário chora,
fininho quase um gemido

louca pra nao ser reconhecido

Chora no canto, escondido
e sobre a mesa do boteco
com doses cavalares de orgulho
se embriaga

e se cega

Serao amigos,
daqueles íntimos
que de tão íntimos nem conversam
nem se olham

E assim seguirão
em meio a tantos outros
donos de sí
não um do outro

Thiago Albino e Paulo Reis

sábado, 18 de outubro de 2008

01/01/2003



Não é preciso pressa para andar
Os passos são lentos na subida suave
A fala já é pausada, mais coerente e cética
Apenas os pátios das indústrias não comportam os ouvintes

Todos os políticos, militares e diplomatas reviram em seus caixões
A classe baixa, enfim, admira um de seus filhos
Nossa bandeira ganha rabiscos vermelhos
Do suor e da luta de um mar de trabalhadores

Os futuros livros contaram uma historia única
A vitória da perseverança, da vontade de transformar.

A barba grande, a camisa desbotada e a alma engajada
Correram por apoios, por assinaturas, por legalização da estrela
Jovens, bandeiras, imprensa, agora, invadem o planalto
Para a grande festa

De norte a sul
Há espera para que os passos continuem em linha reta
Para que a faixa verde amarela
Não estrague nosso sindicalista.

Thiago Albino

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Leito 39



Caras e bocas já não me assustam mais
há algum tempo mudei minha concepção de viver
vida é.....
acordar, doer, medicar, limpar e medir pressão.

Para que servem os amigos e parentes?
Fazer inveja ao paciente do leito ao lado,
servem para mostrar a dura realidade através de lamentos,
vou morrer.

Incrível,
há 6 meses tenho a certeza de que vou morrer,
sinto os tumores aumentando, o ar faltando,
mas,
nesses 6 meses vi o filho da vizinha ser atropelado
o Antônio sofrer infarto
e minha mulher envelhecer 6 anos.

O corpo da morte ainda não vi,
mas a fisionomia.....
já a conheço e me visita todos os dias.
Médicos, enfermeiras e até outros enfermos
misturam pavor, dó e alívio.

Deus ainda não me visitou
mas mandou alguns anjos, meus netos.
Criança exige alegria
e diferente dos adultos
criticam em vez de afagar a tristeza.

Acordo,
mais ofegante que de costume,
a certeza chegou,
já não mais me importa a dor.
Cria-se na minha cabeça uma expectativa.
Para aqueles que não se despediram de mim,
um que pena.

O que mais me assusta não são os litros de suor,
são as lágrimas de uma residente que nunca a vi
e calado me indago.....
será que morrer é tão ruim assim?

Thiago Albino

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Minha Diáspora


É preciso uma certa resiliência
Um "quê" de maleabilidade
para viver nesse falso mutualismo
que é a sociedade

Pandemia de tolerância
Epidemia de Gandhis
Excesso de viver

minha ideologia

Essa ideologia
indígena em mim
parece pronta
para a diáspora de idéias

Que seja utopia!
Que seja sonho!
são meus presságios
Que podem ser compartilhados

Expressem como queiram:
com o corpo
com a fala
com as letras

Impunidade escrota
Silêncio por medo
Grito é por todos
a palavra é para nós.

Paulo Reis

terça-feira, 14 de outubro de 2008

RETRATO DE FORMATURA


O moço bonito tem 18 anos.
Viu a menina,
viu a mocinha,
e agora mulher aos quarenta.
Ó moço bonito,
o tempo mudou só para mim.
Você permanece viçoso
na sépia marrom
do porta-retrato.

Helena Maria Galvão Albino (1992)

Mocca


Faz bem frio ultimamente
As ruas ficam mais vazias
Cervejas geladas e meninos brincando
Já não são protagonistas
O baile rebelde das folhas
Com o suspiroso vento
Ganha tristes projeções
O piano humildemente
Desafina as cordas do violão
As cores deixam de serem vivas
Mas não deixam de serem belas
O tom fúnebre acinzentado
Que vejo na janela da cafeteria
Realçam o cabelo dourado do meu amor.

Thiago Albino

domingo, 12 de outubro de 2008

Acontecemos

Vivemos e ponto
mas vivemos.....
Choramos, aprendemos,
Mas nunca deixamos de viver;
Ontem!
Tudo era sofrimento,
a tristeza tomou conta de mim
mas não vale a pena viver assim
a cada dia não há mais solidão
estar comigo é forma de solução
sei que sou mais que um simples e cru perdão!



É o primeiro que hoje é feliz
Amor a dois é lindo e quero que vá,
ser o que um dia vou ter e sempre quis
reencontrar o amor que me fugiu
e que há de um dia ressurgir

Pra que viver sem ter amor!
Alguém te quer, pensa em ter
é coisa só, há de brotar
quando nascer, felicidade
mas não há pressa, é espontaneidade!

Sei que há ser, pois há sofrer,
há de no fim,
como razão,
vai -te amar, vai-te sonhar
e vai sorrir,
pois é a paixão, vai como um todo,
te perseguir!

(Thiago Albino/Túlio Marquês)

Miúcha


Parada com a mesma cara de afeto,
sem julgamentos,
sem muitos desejos
e sempre feliz,
ela me vê
ir e vir.

Thiago Albino

Homenagem a cadela que sempre vai estar ao lado do meu quarto com o rabo balançando, vigiando se cheguei bem.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Véspera


Os suores, me revelam
expressam meu peito
cheio de dúvidas e
anseios

A insônia sentencia
me culpa por meus zelos
meus medos
desvarios

Decoro palavras
evitando uma gagueira infantil
mas que é inocultável

Meus nervos
a flor da pele
dos ossos
dos músculos

Músculos que me prendem
enjaulam minhas atitudes

Ah quantos amores vão morrer
antes mesmo de acontecer?
quantos vão se esvair e chorar

O tempo infinito
minutos milenares
esperam pelo amanhã

E assim juntos
anos se passam
suores secam
gagueiras somem
músculos frouxos

Ah se todos os amores
fossem sempre lindos
como o da véspera

Paulo Reis

Atalho para afinidade


Em meio tantas turbulências... você
Nem sei porque, mas fui pra ver
Cervejas, nigths, adormecer
Andar na praia, ver o sol nascer
Dizer que é o raro viver


risos, sair do sério, perder o sapato e dar o ombro
falar português, inglês e até francês
dançar, esquecer do mundo, mergulhar
24 horas sem nem mesmo se cansar


me diz se isso não é de se cantar
me diz se isso não foi de se fantasiar
de esquecer jamais será
é sempre de doer e festejar


O bom é de se fazer
O bom é de se lembrar
O bom é onde, mesmo depois de tanta alegria, se fez chorar

O mundo fez nos conhecer
E entao ele cresceu
E o medo ignorado, fez do impulso o desejado
Que de ser feliz foi contemplado


Se amanhã ou depois alguém perguntar
Muitas noites em claro e histórias boas vamos ter pra contar
De tudo isso fica
Fica a felicidade que teve fim
A amizade do eterno
E a vida bohemia pra gente sempre recordar e confraternizar

Marina Cândido

Versos da despedida


E você vai
de súbito
assim como chegou

E vai levar
meu peito (doído)
que conquistou

Presa fácil
para seu tom de voz,
para o aprazível jeito
de prezar o viver

Intensa,
daquelas que queimam
esbanjam amor
e uma peculiar vontade de amar

e você vai
e vai chegar
todos os dias

e vai voltar
e vai embora
sempre

Sua despedida não é agora ( grande amiga )
não temos despedidas
e sim, um irremediável
desencontro

E assim mais tarde
nós seguiremos
juntos e separados
naufragados
pela vontade de viver

Paulo Reis

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mudanças




Antes mesmo de começar a escrever já sinto a abstinência dos meus infinitos pontos.........., da pausa com Ahhh!!! e dos poucos mas bastante previsíveis encavalamentos. O papel e a caneta fazem um movimento mais rápido quando dançam pela prosa.
Não me separei dos versos; a sonoridade, simetria nunca será esquecida. Resolvi beber coisas novas, vomitar tudo aquilo que sinto ou que simplesmente habite meu pensamento por frações de segundos. Mas que algum dia retornarei para minha leve redondilha......retorno.
É inevitável, toda ausência por mais que momentânea dói. Há algum tempo já tentei mudar o estilo. Já tive momentos em que tinha muito mais disponibilidade, com o tempo bem mais ameno, cervejas bem mais geladas. Então, por que agora? A resposta é bem previsível, mulheres. Perdão, mulher e que mulher.
Ela me veio de uma forma que até hoje não sei seu cheiro, não sei se o sorriso da foto é tão belo pessoalmente. Não fico perdendo noites de sono pensando o que iria pedir ao garçom se jantasse com ela, com exceção desta noite, mas quando algo me remeti à vaga lembrança da blusa listrada fico com vontade e com as dúvidas.
O pouco que sei já seria suficiente e a cada novo dia, nova surpresa. A espera permanece, entretanto a prosa, de uma forma sutil chegou, como tudo na vida, inclusive a menina que mudou a rima e espero que sutilmente mude o final desse texto.
Thiago Albino

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Traços modernistas



Desejo subir
alto
imenso
e aproveitar amiúde

Arcos Paralelos
Parabólicos
acinzentados
sujos pelas mãos"modernas"

Concreto pincelado
mostrando o atalho
curto e lindo
até a modernidade

Lá de cima
faço o meu caminho
caminho torto,curvo
em um melódico equilíbrio

Paulo Reis

Descriptione


Um lírio
cinquenta centímetros
pés inquietos
língua de fora

Delírio
que não se equilibra
sobre minhas pernas
quase se embola

Gracejos
risada deleitável
desarranja meu peito
de hora em hora

Cabrocha
exalta em reflexos
bruscos-singelos
quando chora

Brisa
com sopro-sorriso
te faço feliz
sem demora

Vida
espero crescer
isabela luisa
para o aurora

Paulo Reis

terça-feira, 7 de outubro de 2008

LEMBRANÇA AOS AMIGOS

Ninguém nunca vivera o dia que se chama amanhã,
este dia é cruel, é ordinário, é falso,
todas as noites, pessoas esperam ate quase meia-noite
e então, reesperam.

Muitos anseiam pelo depois, muitos sonham com o antes
mas poucos vivem o agora.

Grandes amores, paixões, brigas, traições, realizações, reconciliações
acontecem em um só instante, nesse instante.
O resto é lembrança, que ate pode trazer felicidade,
quando se lembra a intensidade.

O seguro que morreu, ontem, de velho
encontrou comigo semana passada.
Morreu triste, cheio de remorso.
Leitos de morte são os melhores divãs para o arrependimento.

Jovens tem a certeza estúpida que resta muito tempo.
Se todos os garotos sofressem infarto aos 20
o mundo seria, no mínimo, mais humano e inteso.



O amanhã guarda, esconde as soluções dos problemas.
O hoje vasculha e encontra.
Um ama, outro chora,
um vive e o outro morre

Quem deixa para viver o depois
acorda sempre com o sol poente
e terá a noite para decidir
se quer aguardar, ansiosamente, a alvorada
ou se quer dormir, dormir....
esperando a morte sorrir.

Thiago Albino

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Órfão



Agua turva
Céu Nublado
Nada claro
tristeza da solidão


Vazio
Um eco do nada
um piscar eterno
falta do fraterno
materno
paterno

Sem referência
Sem abrigo
sem colo
mendigar afeto
rotina constante

Entristeço
Por ser impotente
Ao ver tanta gente
inventar uma família
com a mente
Dormir num sonho
em que tudo é diferente
e acordar na avenida
novamente

Paulo Reis

Prejuízo


O que é se apaixonar?
Se entregar ou planejar?
É muito mais fácil retribuir do que criar.
Que pena,
comprei todas as ações
da maior empresa que auxilia na produção da paixão.
Comprei toda a coleção de Vinícius de Moraes.

Thiago Albino

domingo, 5 de outubro de 2008

Obituário


Ao invés de me mandarem flores,
me mandem cervejas.

Não quero que meus filhos chorem a morte,
quero que celebrem a vida.

Não quero sua visita em novembro,
quero te ver na aurora de amanha.

Quero a força do seu "me querer bem"
e que as tolices da juventude
sejam aproveitadas

E que as certezas da maturidade
sejam esquecidas

Tudo isso enquanto estiver vivo, sorrindo
a espera do seu ombro amigo.

Paulo Reis e Thiago Albino

Albino Tereza


Do meu irmao
eu carrego um amuleto
Do meu amigo
eu levo a alegria
Do companheiro
a camaradagem
Do confidente
a cabeça erguida

Dos garranchos
uma lembrança
lembrança de uma infância eterna
De santa tereza,nossa casa
De suas ruas,o samba
Do samba,
letras nunca feitas
Do violão,tentativas
Da gaita,nem isso

Da Mármore ao indaiá
do morro que tenta nos separar
da rua em que não dá pra passar
da morena à rebolar
do metro à chaqualhar
do vagão à mudar
pra corrida apostar
da infância nao quero separar

A responsabilidade há de chegar
Os cabelos, onde vão parar?
O nariz há de aumentar
os filhos vão brotar
contas para pagar
mulher pra atazanar
chopp pra acalmar
haja falta de ar!
Da barriga eu nao quero nem falar

Mas meu amigo,
esse eu tenho certeza
Não vai me abandonar
Sempre vai ficar!
Paulo Reis

Passarela


Os cabelos já cresceram o que tinham que crescer
Santa Efigênia,
continua linda como sempre,
mas, já não é o suficiente.

As esquinas, as brincadeiras, as meninas,
Santa Tereza,
Continuam lindas como sempre,
Mas já não são necessárias.

A adolescência passou, perfeita como sempre foi
Cheia de descobertas
festas.....festas.
O futebol aos poucos deu espaço ao violão,
a diversão à paixão
e a cerveja chegou no meio dessa confusão.

Aos poucos,
a distância transpôs o morro,
os caminhos não mais seguiam o ônibus,
as bicicletas ficaram encostadas.

.....

Não foi em vão
Vivi ao lado de um membro real
e a amizade ficou no meio dessa confusão.

O convívio diário
mudou para a expectativa diária
de relembrarmos tudo para vivermos mais.
As conversas continuam inocentes
...a vida bem mais séria.

Os morros crescem
Junto com eles
o futebol arruma um jeito de sobreviver.
O violão parece católico,
só sai aos domingos.
O samba luta para sair
e a cerveja sempre estará gelada.
Pois, a amizade, o telefone, a visita, enfim,
A nossa vida está de portas abertas um para o outro.

Afinal,
Santa Tereza e Santa Efigênia
são tão próximas
que ninguém sabe
onde na passarela
termina uma e começa outra
mas, que continuem.......os
juntas.

Thiago Albino

Sol do Chile




Tenho pena do homem que morrer sem antes amar uma loira à luz de velas.

O preto de sua roupa misturado ao roxo do vinho

criam um ar de paraíso hedonista.

As curvas se destacam com o pressionar das mãos.

A voz mansa provoca agora um turbilhão de arrepios.

Os cachos de cabelo há muito já viraram pétalas de rosas.

A sala transforma-se em um cubículo, não cabe mais um grão de
areia.

A certeza da eternidade some e dá lugar ao imenso prazer.

O medo me alcança

pois o homem que esquecer o que é amar uma loira à luz de velas

já é digno de pena.

ThiagoAlbino

Palavras de um amor platônico




Sofríveis amores tóxicos
brotastes sem aval
coração cabrocha
pra onde vai sua náu?

Despetalais em primavera
retiraste o rumo meu
da forma mais sincera
semelhante filisteus

Me condenaste pelo ócio
e corroestes lentamente
de forma bruta e
singelamente doente

Deitaste-me
inefável momento
e passe a dor,
do desprezível desalento

Escoastes desse peito
Rio de um beijo
beijo cuspido
escarrado em vão momento

Paulo Reis